Minha avó disse que nessa pedra tinha uma sereia
Foi o que Janaína soprou nos ouvidos de Manel. Telefone sem fio. Ele riu, pensou e passou a mensagem adiante. Daí por diante todo mundo riu. Gargalhadas. Chegou pra mim como “esse povo conta é mentira”. Quem não ri?
Daí a gente foi puxando o fio. Eu contei essa história porque ela me contou essa. E vieram histórias de nego d’água e de um velho que quando bebia chorava. Uma história puxou a outra, era tudo verdade, era tudo mentira. Alguém viu ou ouviu dizer. E aumenta a história.
Histórias de livusia. Já ouviram falar? Eu nunca vi, mas já vi quem viu. Disque a palavra livusia vem de aleive, um termo português que designa mentira. Leviano. Pois pra mim não há nada que conte mais verdade do que ela, a livusia. Sempre acontece a alguém, em algum lugar num certo tempo. Eis o testemunho de sua consistência.
Daí que as sereias não voltaram mais. Desde a barragem o rio não corre como antes. Mas, ele para quem? Tá todo mundo no corre. A história é que as espantaram com cacos de vidro, as sereias.( Fiquei pensando se era seu espelho). Daí não vieram mais.
O rio raso, sem corrente. As vezes se espalha mais, quando enche. Tão bonito, águas paradas, transparentes. Da de ver o fundo, quase. Beeeem limpinho. Mas aos peixes também dá. Eles veem a gente igual a gente vê. E se escondem. Mas pra onde? Não tem mais loca e tudo croou no assoreio. Nego d’água que não é besta e a tudo vê, nem vem mais num vem.
Então se acabou? Cari, dourado, crumatá. Nego d’água, sereia? Hum-hum. Acaba não. Porque tudo que é vivo caça canto. Repare bem: mesmo o morto, quando morre, não caça um canto pra viver?
Eu mesma não sei. Mas tem. Onde, quem sabe? Ouvi dizer. Ou talvez seja esse mesmo o canto da sereia.